Seria menos problemático se o cosplayer tivesse uma mínima participação na matéria, mas como esta é tratada como divulgação, creio que os veículos não achem necessário o contato. Porém, dizer que não é um problema é complicado visto que as escolhas dos cosplayers quase sempre são mulheres com cosplays sensuais, além de títulos criados apenas para cliques ou até com informações incorretas.
A realidade é que essas matérias, em teoria, não impactam diretamente no universo do cosplayer, que talvez nem acesse materiais do tipo, sendo estes feitos para um público mais generalizado e fora da bolha cosplay. Mas no macro essa percepção pode ser bem diferente, pois se a intenção é alcançar um público genérico, alheio ao universo cosplay, essa é a visão e julgamento criados para esse público.
Que cosplay se resume apenas a mulheres bonitas, sensualizadas, objetos de apreciação visual.
E não a uma pessoa real, do outro lado da postagem, criando arte. Arte essa que não está em pauta aqui, seja criar o próprio cosplay e acessórios do zero, modelar, fotografar, gravar e todas as mais variadas de maneiras de se fazer cosplay.
Isso é bastante preocupante no ponto de vista de uma cosplayer jornalista, que vê desperdiçada a chance de contar histórias incríveis junto com boas fotos, no lugar de apenas transformar o cosplay em um entretenimento vazio com um apelo unilateral.
O jornalismo cosplay é raso, praticamente inexistente. E quando coloco a expressão jornalismo cosplay digo na ideia de existir um olhar jornalístico que realmente se preocupe em ter a curiosidade de entender, cobrir e divulgar o meio cosplay por suas possibilidades, expressões e potencialidade, e não enxergar apenas uma pauta oportuna para entreter sem informar, nem explorar sua essência.
Isso não é uma crítica a conteúdos de cobertura, que embora pudessem melhorar, não são o foco deste texto. O que está em pauta é o jornalismo especializado, de preferência com profissionais experientes que sejam da área do entretenimento ou tenham interessem em produzir bons materiais.
Cosplay é uma arte complexa, com vários níveis de habilidades que envolvem realiza-la. Disto, podem-se tirar materiais diversos para a produção jornalística, seja em matérias de coberturas de eventos, matérias especiais, entrevistas, divulgação do trabalho de cosplayers, cosmakers, fotógrafos, videógrafos, modelos, influencers e muito mais.
E como podemos mudar essa percepção? O primeiro passo é enxergar o cosplay como arte, elevando a prática da criação e expressão do cosplayer para obra de arte, seu trabalho como algo único e pessoal. Tirando a ideia de que cosplay é apenas usar uma fantasia, no lugar de ser uma complexa produção.
O segundo passo é um trabalho de conscientização e propagação do que realmente é o cosplay. É postar sobre, conversar, falar em entrevistas, textos, podcasts, vídeos, cobrar de veículos um material de qualidade, ficar atentos para quais veículos valorizam o cosplay ou criam pautas sem sentido. É se valorizar e valorizar a prática do cosplay criando essa consciência.
Sei que nem todos estão interessados nisso, ou sequer pensam sobre o cosplay nessa dimensão, mas os poucos que se posicionarem e trabalharem em prol dessa valorização, já farão a diferença nesse olhar sobre a prática.
Esse texto nada mais é do que um alerta e um convite para que nós sejamos conscientes que quem somos, o que e como fazemos e qual o valor do nosso trabalho. O Kosplay é uma promessa de que o cosplayer e todas atividades e/ou profissões que cercam o cosplay sejam tratados com respeito e com a importância que merecem.
Então, quem sabe em breve não começaremos a ver notícias e matérias com outras abordagens mais interessantes para todos, incluindo os próprios veículos, que podem ir além e tornar o Jornalismo Cosplay algo maior.
Texto escrito em Setembro de 2022 pela jornalista Kiki Bélico. Foto de capa: DC Comics - Lois Lane #7 por Yasmin Putri.
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